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“Precisaremos ter vacinas aprovadas e licenciadas para jovens abaixo de 18 anos”, diz infectologista do HC

Confira entrevista com o chefe do Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) do Hospital das Clínicas da UFPE, Paulo Sérgio Ramos

O aniversário de um ano do primeiro caso confirmado de Covid-19 em Pernambuco atingido neste 12 de março é marcado pelo número maior de casos em todo o Brasil, mas também pela esperança na vacinação como forma de criar uma imunidade que proteja a população de contrair as formas graves da Covid-19.

O chefe do Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) do Hospital das Clínicas da UFPE, unidade vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), Paulo Sérgio Ramos, fala sobre esta nova fase da doença e da esperança na vacinação para salvar vidas. “Alguns Estados já reportam nas suas estatísticas uma redução de número de casos e óbitos entre idosos, o que deve estar relacionado às vacinas nesta faixa etária”, explica. Confira a entrevista:

HC – Com esse aumento no número de casos e mortes, podemos falar em segunda onda?

Paulo Sérgio Ramos (PSR) - Independente de uma questão mais conceitual do ponto de vista epidemiológico, podemos afirmar que experimentamos nos últimos meses um aumento expressivo de casos e óbitos, após um curto período de aparente estabilidade nas estatísticas.

HC - Por que o segundo ano da pandemia está começando pior em comparação com o primeiro?

PSR - Alguns fatores podem estar relacionados, como a questão comportamental. Tenho a impressão que, de forma geral, as pessoas estão mais cansadas e menos sensíveis à pandemia, às mortes e às recomendações das medidas de mitigação. Além disso, é possível que as novas variantes do vírus estejam circulando e causando maior espalhamento entre a população, já que os estudos apontam para maior contagiosidade das mesmas.

HC - Os pacientes com a Covid-19 estão mais jovens?

PSR - Sim. Alguns Estados já reportam nas suas estatísticas uma redução de número de casos e óbitos entre idosos, o que deve estar relacionado às vacinas nesta faixa etária. Há também o comportamento mais permissivo e transgressor de pessoas mais jovens, participando de eventos que geram aglomerações.

HC - A doença está mais agravada?

PSR - O acesso mais rápido aos serviços de saúde e um melhor domínio dos profissionais de saúde com o manejo dos casos mais graves têm trazido melhores resultados nos desfechos favoráveis.

HC -  O Brasil pode atingir a “imunidade de rebanho” sem vacinar os menores de 18 anos? Qual o percentual da população seria o mínimo para atingirmos a imunidade?

PSR - A população de 0 até 18 anos corresponde a quase 24% da população global do País, segundo último censo do IBGE. Ou seja, para alcançarmos taxas de cobertura de 80-90% da população, precisaremos ter vacinas aprovadas e licenciadas para essa faixa etária, o que a indústria farmacêutica já vem fazendo. Essa população mais jovem é importante carregadora e disseminadora do vírus.

HC - O que aprendemos com a pandemia um ano depois? 

PSR - Aprendemos que a ciência se move e de forma muito rápida, aprendemos sobre empatia e capacidade de mobilização coletiva e que nada deve interferir na construção do conhecimento.

Data da última modificação: 11/03/2021, 17:29